quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Viagem de Volta

Era domingo. 20h
A Rodoviária do Tietê seguia seu fluxo normal. pessoas e malas por todos os cantos. Perdi o ônibus que sairia em uma hora e quinze. Encontrei uma das últimas passagens daquela noite.

Ainda faltavam duas horas e meia para o ônibus daquela linha chegar na estação, resolvi então ler um livro. Sem lugar para sentar me ajeitei ali no chão mesmo onde todos pareciam ter tido a mesma ideia. Uns pareciam estudar com cadernos de espiral e caneta na mão, outros faziam leituras pelo celular, outros apenas sentados, observavam. Uma moça fala ao telefone, nervosa. Um senhor a minha frente parecia triste, com olhar congelado em uma direção qualquer e o bebezinho chorão só queria mamar.

Quando se aproximou das 22h30, aguardávamos na plataforma 21 e a vontade era mesmo de chegar em casa. Sempre que compro passagens escolho a poltrona que ao lado está vazia, eu gosto de viajar sozinha, gosto da companhia dos meus pensamentos. Mas naquele dia alguém ocupou a poltrona ao lado.

Moça nova. Pele branca, olhos castanhos e muitas, muitas lágrimas. Ela já ocupou a poltrona com um certo desespero óbvio que escorria pela face. Esperei que se acalmasse e ela mesma começou a falar:

- Desculpe moça. Levei um pé na bunda.

O problema é que eu nunca sei, de imediato, o que dizer nessas horas. Fiquei quieta por alguns momentos enquanto as lágrimas iam sumindo aos poucos. Lembrei de uma conversa naquela tarde em um parque de São Paulo.

"Somos nós Re. Não os outros."

- Qual seu nome?
- Mariana.

A idade entregava o desespero. 22 anos. Primeiro namorado. Três de relacionamento e ele rompeu por que já estava com outra pessoa.

Ela fazia um curso em São Paulo no fim de semana e estava voltando para Varginha MG, cidade onde moravam. A discussão por telefone antes do embarque levou ao término do relacionamento. Tentei explicar que eles ainda conversariam, que as coisas precisariam estar mais calmas para então conseguirem ter uma conversa mais sincera. Que felicidade não depende dos outros mas de nós mesmos. Todas essas coisas que por experiências, aprendemos. E pra quem está de fora, fica ainda mais fácil de compreender.

Percebi que enquanto conversávamos ela se acalmava mas não acreditava em uma palavra que eu dizia. Para ela, ali era o inferno, o fim, game over.

Já próximo ao meu destino, Mariana lamentou:

- Eu ainda gosto muito dele.

Quando desembarquei falei para ela continuar a viagem bem e deixei um 'lambe' para ela nunca se esquecer que a vida sempre continua. Sempre. E que relacionamentos se vão, assim como pessoas.

- Em todos os fins o que fica é você.











quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Acordes


Se eu fosse fazer uma canção sobre 
a última voz que se ouviu no início daquela manhã
Sairia da união de notas musicais 
às 5:30 a.m 
- Até logo!
Instrumentos que se musicalizam no silêncio 
também se transformam em canções

são como palavras soltas em emaranhados de acordes
qualquer som que propague no esconderijo dos nossos desejos
soa como uma chance
e outra, e 
outra. 


quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Passeio do Dia

A caminho do trabalho,
tinha um ipê amarelo
com buquês de flores nas pontas dos galhos
eu sempre passeio por lá
você, eu nunca vi passar
depois do ipê, na rotatória
esperou para te notar,
mas o passeio pedia muito mais
que aquele mesmo olhar.